Educação Financeira no Brasil: Onde estamos e onde devemos chegar?

Por Redação Onze

É indiscutível a importância da educação financeira na vida das pessoas. Apesar dos avanços do tema nas mídias sociais, o assunto ainda é pouco discutido na esfera pública, onde está presente a grande parte da população.

Isso é um dos motivos de  não termos ainda um projeto de educação financeira no Brasil. Se o tivéssemos, seráque poderia mudar a conjuntura econômica? Afinal, as escolhas financeiras de cada um podem impactar no bem estar de toda a população? Saiba estas respostas neste artigo.

O que é Educação Financeira?

O conceito de educação financeira se resume em instruir as pessoas em relação à administração da sua renda, de forma que ela se torne mais competente e consciente na gestão suas finanças. Isso, considerando riscos, oportunidades, fazendo escolhas e investimentos.

Com base nesses aspectos, a educação financeira pode ajudar a formar cidadãos mais comprometidos, não apenas para ssua vida privada, mas também com o futuro e sustentabilidade da sua sociedade.

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, falar em educação financeira não serve apenas para abordar assuntos complexos, como investimentos e fundos de reserva. A educação financeira também trata sobre situações cotidianas, das relações sociais que fazem uso do dinheiro e seus serviços. Essa educação é importante, pois estamos expostos a essas questões desde que nascemos, não é mesmo?

Desta forma, é importante fazer com que a educação financeira no Brasil seja idealmente realizada ainda na infância, para que as crianças possam adquirir e formando consciência sobre o manejo dela. E isso pode ser feito por meio de iniciativas simples, como acompanhar os pais no mercado, administrar uma mesada ou saber quantas horas ou dias os pais precisam trabalhar para pagar uma conta ou um brinquedo.

Enquanto a educação financeira pode ser singela ao ponto de ser compreendida por uma criança ou adolescente, também é um tema amplo e complexo. A inclusão se torna necessária na agenda da responsabilidade social, uma vez que pode afetar direta e indiretamente a economia de todo um país.

Por que a Educação Financeira é tão importante?

A educação financeira é fundamental para o progresso social e econômico de um país. Uma população educada financeiramente, não só saberá gerir melhor seus salários e bens como passará a entender melhor sobre economia e mercado. Assim, como consequência tende a apresentar uma educação política de qualidade, compromisso social e valorização do trabalho.

Sendo assim, muitos governos, associações e iniciativas privadas investem em programas de educação financeira no Brasil para conscientizar a população sobre sua importância e de colocar em prática o aprendizado. Ações como esta ajudam a evitar, por exemplo, altos graus de endividamento, o que prejudica a economia do país como um todo.

Mas como está o Brasil em relação a isso tudo?

Panorama da educação financeira no Brasil

O Brasil já entendeu a importância de uma educação financeira. Em uma pesquisa coordenada pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil) mostrou que, em cinco anos, iniciativas de educação financeira aumentaram cerca de 72% no país.

As maiores responsáveis por esta evolução são as instituições de ensino, que estão incluindo o tema em seus currículos.   assunto está sendo discutido desde 2010, quando ganhou espaço oficial com o programa da Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF (http://www.vidaedinheiro.gov.br/). No entanto, apenas em 2017 o tópico foi incluído no âmbito nacional, com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento do Governo Federal que norteia as diretrizes de ensino no país. Assim, até o início de 2020 todas as escolas deverão se preparar para o ensino de Educação Financeira, não só envolvendo a Matemática, mas todas as outras áreas correlatas.

A ENEF foi importante também para comprovar a eficiência  da educação financeira nas escolas. Por meio de um projeto piloto, resultou em melhora no comportamento financeiro dos alunos, de acordo com a avaliação feita pelo Banco Mundial.

Essa iniciativa mostrou que no ambiente da escola, as possibilidades são inúmeras. É possível desenvolver projetos para crianças em idade pré-escolar, até acompanhar seus pais em feiras, bem como em projetos mais ousados, no comprometimento de adolescentes na criação de estratégias para levantar fundos para uma festa da formatura.

No entanto, não são apenas as crianças que podem começar a aprender sobre Educação Financeira. Esta é uma pauta que durante muito tempo foi negligenciada pelos meios de comunicação, pelas escolas e por boa parcela da sociedade. Logo, muitos adultos não sabem do que se trata. Isso se reflete diretamente no aumento do endividamento e no uso indevido dos produtos de crédito – problemas que são parte da realidade do nosso país e afetam principalmente as classes mais baixas da população.

Como estamos em relação a outros países?

A crise financeira de 2008 impulsionou estudos sobre o impacto da educação financeira nas escolas não só no Brasil, mas em diversos países.

No exterior, o ensino financeiro é abordado de forma prática e cotidiana, por meio de materiais didáticos que ensinam:

  • como ler um boleto;
  • o que é um cartão de crédito;
  • como poupar moedas;
  • mostrar o valor das coisas etc.

Aplicando e avaliando esta metodologia, o Reino Unido conseguiu identificar um bom desenvolvimento de habilidades cognitivas relacionadas ao estudo de educação financeira. Já a Espanha, notou um aumento da consciência dos alunos em relação ao valor dos recursos e a consequência das escolhas atuais no futuro, o que pode apontar para uma vida financeira mais saudável na vida adulta.

O Brasil não fica muito atrás e está recebendo cada vez mais incentivos para o investimento na educação financeira. Parcerias público-privadas estão treinando educadores da rede pública de ensino, que ajudarão a disseminar, de forma gratuita esse conhecimento. Os números podem chegar a até 1 milhão de estudantes até o final do ano. O modelo está, inclusive, sendo adaptado para uma expansão em outros países, como o Chile.

Quais são os maiores desafios?

Estas iniciativas enfrentam muitos desafios, principalmente em países, como o Brasil, em que o nível de educação geral já é preocupante. Porém, o grau de escolaridade não é o único fator que influencia na capacidade de administração financeira de uma pessoa ou unidade familiar.

Na verdade, uma pesquisa cruzou dados do Indicador Nacional de Educação Financeira (INDEF), da Serasa Experian e do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF), e apontou que as experiências práticas são as que mais impactam no comportamento financeiro do consumidor, mesmo em indivíduos com maior renda e letramento.

Sendo assim, um dos maiores desafios de educar a população, é o de desenvolver uma educação financeira no Brasilque se adeque à realidade de cada região. Desta forma, considerando suas diversas classes sociais, fontes de renda, escolaridade, perfis de consumo e até de cultura local, essas informações se integram para aplicar uma metodologia que realmente funcione.

Assim, em médio e longo prazo, poderemos todos colher os frutos da educação financeira no Brasil: uma sociedade mais sustentável, consciente de seus recursos e da consequência futura de seus gastos ou investimentos.